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A lua. Por; Carlos Rubem

 

 

A lua

*Por; Carlos Rubem

Em criança, nas noites estreladas de Oeiras, mirando o firmamento, sentado numa cadeirinha de madeira com assento de couro de boi, com o corpo recostado no colo das minha tias maternas, que me faziam cafuné, repetia o que elas me diziam: "Lua luar / Me dê pão com farinha / Pra dar pros meus pintinhos / que estão presos na cozinha". Embalado com diversas canções de ninar, logo caía nos braços de Morfeu...

Às vezes, a minha mãe, Aldenora Campos - fã de Ângela Maria - deitada numa rede, me botando para dormir, entre tantas outras melodias, cantarolava: "Lua que no céu flutua / Lua que nos dá luar/ Lua, oh lua / Não deixa ninguém te pisar".

No início dos anos sessenta, aqui houve um bloco de carnaval intitulado "Enamorados da lua". Bonito de se ver o bancário Edilberto Mãozinha, à frente da patuscada, empunhando o estandarte momesco.

A Lua é o único satélite natural da Terra. Sempre exerceu grande influência em nosso planeta. O homem quis explorar os seus mistérios...

Aos dez anos de idade, exatamente no dia 19 de julho de 1969 - portanto, há 50 anos - adentrei, como de costume, a residência do Professor Possidônio Queiroz. Nesta oportunidade, a sala de visita estava apinhada de familiares e amigos. Enquanto isso, se ouvia a transmissão, via rádio, da chegada do homem à lua.

Vez outra, um dos convivas fazia uma indagação ao aludido Mestre acerca daquela epopeia. Aí o velho Possi, que sabia de tudo sobre a exploração lunar, baixava o volume do aparelho radiofônico, dava as explicações necessárias. Mostrava revistas que estampavam imagens da nave espacial.

No momento em que o astronauta Neil Alden Armstrong pisou no solo lunar e pronunciou a célebre frase "Esse é um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade", irrompeu uma salva de palmas.

Ao tomar conhecimento dessa façanha, a matriarca Dona Eugênia Carneiro, cega, ficou preocupada com os astronautas que pousaram na lua: "Diz pra esse homem não pisar na beirada..."

Naquele período, os estudantes oeirenses, radicados no Recife, haviam criado o Raiose Club para desenvolver atividades de lazer e cultura na Velhacap, nos períodos das férias escolares, universitárias.

Assim, promoveram uma baita festa temática relativa àquele avanço científico, animada pelo nativo conjunto musical "Os Falcões", no Oeiras Clube, onde, à sua entrada, foi construída uma réplica, de uns 10 metros, do foguete Apolo 11. O tio Gerson Campos foi o cerimonialista daquele supimpa evento. Esclareça-se: Raiose é o anagrama de Oeiras.

Onde eu estiver, gosto de acompanhar as fases da lua. Me sinto enfeitiçado, uma sensação de paz me domina ao observar a sua luz prateada.

A propósito, sempre fico impactado com a leitura de "Adoração", composição poética de Nogueira Tapety, adiante transcrito:

Como o índio deslumbrado ante a esplendor da lua,
Cujo doce palor ama sem compreender,
Eu fico, muita vez, ante a presença tua,
Extasiado no gozo excelso de te ver.
 
És então a celeste Iara que flutua
Noutro céu que a mim só foi dado conhecer;
És Tanit, cuja luz reconstrutora atua
Levantando a Cartago em cinzas do meu ser.
 
Como é bom se viver assim transfigurado,
Num mundo vago, ideal dos outros ignorado,
Onde és mais que Beatriz com toda glória sua...
 
Ah! quanto bem me faz este sonho formoso,
Que me deixa rendido, inundado de gozo,
Como o índio deslumbrado ante o esplendor da lua.

 

* Carlos Rubem Campos Reis é Promotor de Justiça aposentado

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