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Sinte Piauí rejeita modalidade de educação a distância, excludente na realidade do Piauí

 

Com o fechamento das escolas em todo o Brasil, seguindo as determinações da Organização Mundial de Saúde de manter o isolamento como principal forma de combate à pandemia causada pelo novo coronavírus, milhões de estudantes estão sem aulas.  

A par deste contexto, o Sinte Piauí rechaça as iniciativas voluntaristas de realizar atividades de ensino à distância (Ead), nas redes de educação do estado e dos municípios, visto que, não só se mostram açodadas, como indevidas e perigosas para a elaboração e o desenvolvimento da educação pública, com a devida qualidade. Evidenciando a preocupação com a grande desigualdade de acesso à internet existente no Piauí, ampliada em função das questões envolvendo a qualidade de conexão e os limites das franquias de dados.

A inviabilidade desta modalidade no atual contexto também é perceptível a partir da constatação do imenso contingente de estudantes e professores desamparados tecnologicamente, sem acesso a computadores, e da falta de acessibilidade de muitas plataformas para pessoas com deficiências.

O reconhecimento da importância das novas tecnologias de informação e comunicação neste contexto de crise epidemiológica, não comporta a adoção pela Secretaria de Educação do Piauí (Seduc-PI) da modalidade de ensino a distância como solução. Assim, o Sinte Piauí a rejeita, entre outros fatores, por compreender que a educação não pode, não deve e não se limita a uma transmissão banal ou um simples depósito de conteúdo.

A substituição improvisada, acrítica e acelerada das aulas na modalidade presencial, pela modalidade de EaD, como proposto pela Seduc-PI acarretará uma série de problemas no curto, médio e longo prazos, tanto na rede estadual, quanto nas redes municipais, pois não substitui o conteúdo educativo regular.

Nossos profissionais do magistério, a par da didática de excelência no âmbito da modalidade presencial, não foram preparados, não têm a qualificação necessária para ministrar as aulas via internet. Além disto, devidos aos baixos salários, a maioria, não possui rede domiciliar de internet ou equipamentos adequados para a transmissão de aulas.  

No que diz respeito aos alunos, estes, em grande parte, não possuem computador, acesso à internet ou ambiente propício para assistir as aulas em casa. Muitos dos residentes na Zona Rural não recebem energia elétrica de qualidade, que dirá sinal de internet, ressaltando que esta situação não é exclusiva das áreas rurais, pois diversas cidades no estado do Piauí não têm sinal de internet.

Não podemos resolver um problema de base estrutural com políticas mirabolantes.  Conscientemente, temos que admitir que, infelizmente, no nosso estado, amplos segmentos da população não têm acesso a saneamento básico, em muitos lares falta água encanada e comida na mesa, e que a pandemia que nos assola agudizou estas demandas sociais.

Portanto, sendo realistas, é patente que o estado do Piauí não tem condições materiais e humanas para ministrar aulas virtuais. Observando-se as dificuldades de aprendizagem existentes na modalidade presencial, imaginemos como será com o ensino de forma remota. Fica claro que, se este processo avançar, o Piauí colocará no limbo uma geração inteira de estudantes.

Esta realidade é muito mais crítica em relação aos municípios, pois a maioria absoluta destes não tem a mínima condição de implementar a modalidade de ensino virtual. Não podemos sacrificar uma geração por vaidade política, fantasia burocrática e mero teatro administrativo.

Senhor governador, senhores prefeitos, senhores secretários de educação (estadual e municipais) não abandonem estes estudantes! Não podemos ser influenciados por falsos educadores, por empresários da educação. Salvem nossos alunos e a educação do estado do Piauí.

Lembramos que o ano escolar não é, necessariamente, coincidente com o ano civil, portanto, o período letivo pode extrapolar, como ocorreu, por exemplo , no caso da greve de 90 dias, no ano de 2012, totalmente repostos, e certamente ocorrerá com a greve atual, que perdura há 72 dias, e não terá o ano letivo perdido.  

A normalização acrítica do ensino remoto em substituição aos processos educativos presenciais aprofunda desigualdades educacionais históricas presentes nas redes de educação do estado e dos municípios do Piauí. Essa adoção serve, ainda, como um teste para os que apostam no sucateamento, com lucro, da educação básica.

Pedimos aos nossos gestores (governador e prefeitos) que não assumam esta opção, não excluam nossas crianças do processo educacional, não proporcionem o aumento dos índices de evasão escolar, pois é o que vai acontecer com a aplicação do EaD no contexto discriminado. Não há impedimento algum para a reposição posterior das aulas, com uma educação digna e de qualidade.

Em função do exposto, o Sinte Piauí, além de se posicionar contra a aplicação das aulas na modalidade a distância, está tomando as medidas cabíveis requeridas pela situação, em nome da educação inclusiva e de qualidade.

Teresina, 7 de abril de 2020

- A DIREÇÃO-

 

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