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Crônica: coração valente. Por; Carlos Rubem

Por; Carlos Rubem

 

Mais novo do que eu uns três anos, me lembro do Assis Carvalho, aluno do “Visconde da Parnaíba”, no final dos anos sessenta. Colega do curso primário do Wellington Dias, J. J. Sousa e tantas outras crianças cujos nomes não retenho no pensamento. A Márcia Mendes era a professora da turma. À época, estudava no “Costa Alvarenga”.

Em 1969, salvo engano, houve uma disputa de futebol entre os alunos dos grupos escolares de Oeiras. O tio Gerson Campos, poeta e desportista, tornou-se técnico daquele educandário que logrou êxito no aludido campeonato.

Em 1972, promovi uma lúdica eleição entre a meninada do centro da cidade. Concorreram ao cargo de “prefeito” o Mauro Tapety e o Natu, meu pajem, digamos. Num discurso afobado, o primo Amadeu Júnior, que apoiava Natu, denunciou que quiseram comprar o voto dele.

A apuração do pleito se deu na casa do vovô Joel. Tio Gerson, falecido em 11.02.1973, vítima de ataque cardíaco, que convalescia do 2° infarto, a tudo presenciava com sua contagiante alegria.

Por essa época, soube que o Assis Carvalho também engendrou igual brincadeira no bairro Oeiras Nova, onde morava, tendo sido eleito o Wellington Dias.

Fez o ginasial no Colégio Estadual de Oeiras, hoje, Unidade Escolar “Farmaucêutico João Carvalho”. Em seguida, tornou-se bancário da CEF. Líder sindical. Ingressou nas hostes do PT desde a sua fundação, em 1980. Graduado em Letras pela UFPI.

Nas eleições municipais de 1988, idealizou e moderou um debate entre os candidatos a prefeito de Oeiras, o qual terminou em quebra-quebra ante a horda de intolerantes pertencentes aos partidos tradicionais. O PT marcou presença nesta pugna tendo sido candidato um lavrador, cujo nome se perdeu no alforje da minha memória.

Desde muito cedo participou da vida partidária com a sua veementemente combatividade. Nunca se abateu do insucesso preliminar. Figura distinta nos eventos locais, muito ligado as causas caras à sociedade.

Na avalanche vermelha de 2002 que invadiu o Brasil inteiro, alçou o poder com o velho amigo, conterrâneo e companheiro de muitos embates, Wellington Dias. Exerceu vários postos administrativos, elegeu-se Deputado Estadual e, posteriormente, Deputado Federal por 03 mandatos consecutivos. Manteve destacada atuação parlamentar.

Presidente da Agespisa, achou por bem mandar grafitar a principal Caixa D’água da cidade com poemas de autores nativos. Muito sensível aos apelos das artes!

Ao ensejo das comemorações dos 300 anos da emancipação política de Oeiras, em 2017, por indicação sua, a Câmara dos Deputados prestou merecida homenagem à nossa terra-mãe, para o regozijo da nossa gente.

Nutríamos respeitosa amizade. Nossos encontros sempre foram marcados por tratativas de cunho comunitário. O nosso último contato se deu há pouco mais de um mês por via telefônica. Conversamos sobre várias demandas de interesse público: a conclusão da nova sede da UESPI; a retomada das obras do aeroporto; a reinserção do Festival de Cultura no calendário cultural do estado, dentre outros temas.

Na oportunidade, falei que havia coordenado, dia desses, a Live Lítero-Musical Oeirense com a Banda Wave Instrumental. Convidei-o a participar da próxima edição desse movimento artístico que ocorrerá no dia 24 vindouro, o que lhe deixou entusiasmado.

No dia seguinte, me enviou um vídeo no qual declama “Sonhando contigo”, poema do tio Gerson, de quem era declarado fã, precedido de um pungente comentário.

Aliás, quando do lançamento do livro “Sonetos & Retalhos”, obra póstuma de Gerson Campos, por mim editada, ainda estudante universitário, em 1979, o Assis Carvalho adquiriu vários exemplares para distribui entre amigos.

No lançamento da reedição da dita publicação, em 2013, apresentada que foi por Wellington Dias, ele se fez presente e prestou depoimento para um documentário sobre o vate em tela.

Hoje (05.07.2020), o coração valente do Assis Carvalho foi traído pelos mistérios insondáveis da vida. Oeiras pranteia o seu ilustre filho que tanto se dedicou para o seu engrandecimento e que muito, ainda, teria a contribuir para tanto.

Os seus benfazejos feitos estarão e ficarão presentes na memória daqueles que são justos e agradecidos!

 

*Carlos Rubem é promotor de Justiça aposentado em Oeiras

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