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Decotelli e a educação brasileira

 

* Por; Marcelo Di Giuseppe
 
 
Após a misteriosa exoneração do Ministro Abraham Weintraub, Bolsonaro iniciou a busca por um nome para ocupar a vaga de Ministro da Educação. O Presidente parece sempre usar a mesma tática: deixa vazar nomes para a grande mídia e assim, ir sentindo a temperatura da opinião pública, até tomar sua decisão.
 
Nesse caso específico, o Presidente tinha alguns cuidados a serem tomados. Bolsonaro deveria achar um nome que agradasse os eleitores conservadores que tinham muito respeito pelo ex-ministro Weintraub e sua guerra ideológica dentro do MEC que tem hoje mais de 300 mil funcionários, sendo 100 mil colocados nos governos petistas. O Presidente deveria descobrir alguém com capacidade técnica comprovada e que tivesse um perfil menos tempestivo que o ex-ministro para assim, tentar avançar a sua agenda conservadora na educação, em uma velocidade mais palatável.
 
Seguindo esses passos, Bolsonaro nomeou em 25 de junho, Carlos Alberto Decotelli.
 
Em apenas 5 dias, Decotelli foi exonerado de forma vexaminosa, para ele e para o país. O currículo apresentado por Decotelli para se mostrar apto a assumir o cargo, constavam mais do que inconsistências. O ex-ministro cometeu crime de falsidade ideológica, de acordo com o artigo 299 do código penal, após adulterar documento privado para obter algum tipo de vantagem. Ele afirmou em seu currículo de forma mentirosa ter sido professor titular da Faculdade Getúlio Vargas, ter doutorado na Universidade de Rosário da Argentina e pós-doutorado na Universidade de Wüppertal da Alemanha.
 
Quando todos achavam que Decotelli havia chegado ao fundo do poço, ele conseguiu afundar ainda mais! Este senhor tentou culpar a mídia e a sociedade pelo seu crime, ao insinuar de forma subliminar que foi vítima por causa da cor da sua pele.
 
Tentar culpabilizar o Presidente e o Governo pela nomeação do ex-ministro não é correto! Tanto eles, como a sociedade foram vítimas de um crime cometido por alguém que conhece a triste realidade brasileira de valorizar posses, títulos e diplomas, deixando sempre em segundo plano o conhecimento, a cultura e os valores morais.
 
O Estado sabe que a maioria dos brasileiros veem a escola em nível fundamental e médio como um local onde possam deixar seus filhos de forma segura, com uniformes e alimentos, colocando em segundo plano a qualidade do ensino. De acordo com as pesquisas aqui do Instituto IBESPE, os eleitores pedem cada vez mais por escolas em tempo integral, não para terem filhos mais capazes para encarar uma vida profissional, mas para terem mais tempo para se dedicar ao trabalho ou outros afazeres.
 
Já no ensino superior, o Estado sabe que o brasileiro valoriza o diploma, como se isso fosse um passaporte para o sucesso profissional e por isso criou programas como o PROUNI e hoje temos 6 vezes mais matrículas anuais do que há 40 anos atrás, resultando em muita gente com diploma, porém, sem a mínima qualificação.
 
Decotelli foi jogado na lata do lixo da história e se você se preocupa com a educação do Brasil saiba que ela não melhorará enquanto os pais terceirizarem essa função ao Estado.
 
Marcelo Di Giuseppe é Cientista Político do Instituto Brasileiro de Estudos Sociais, Política e Estatística - IBESPE (www.ibespe.com.br) /  https://marceloibespe.blogspot.com/
 

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